junho 30, 2008

Ubatuba com os Lacombe

Aproveitamos que minha irmã estava no Brasil e fomos passar uns dias na praia. Minha mãe tem 11 netos, uma criançada danada. Só a Marta, minha irmã mais velha teve 2, um casal, os outros tivemos 3 cada um. Aproveitamos pra tirar uma foto com todo mundo, coisa difícil de acontecer. Eu adoro essa foto. Principalmente porque a legenda é difícil de fazer. Dá uma olhada:

Começando da esquerda pra direita, no alto: a Babá, de casaquinho azul, Marta, vovó Guguta com a Laura no colo e Zé Henrique; Gui [G] de cabelos compridos e camiseta branca, Betina, de camiseta vermelha, Camila [B] e Guga[B], Gabriel [B] ao lado da Laura, Bibia [M] e Dani [G]; Andreco [M], de camiseta verde, Mario, Bia e Diogo, Marina [G], Nando, de barba e Guy à sua frente; eu deitado. (A letra depois do nome entre colchetes indica o nome da mãe: Marta, Betina e Guy).

Primeiro aniversário – Batizado

Quando eles completaram um ano fizemos uma festa. Queríamos fazer uma festa grande, convidar todos os amigos, todas as pessoas que nos ajudaram, dos médicos às enfermeiras, todos sem exceção. Mas não foi isso que conseguimos fazer. Ao contrário, fizemos uma festa bem familiar, junto com o batizado. Apesar disso, era gente saindo pelo ladrão. Só nossas famílias já davam pra fazer uma semana de festa. O mais legal foi que minha irmã veio do Colorado para conhecê-los.

O batizado foi num domingo de manha, na catedral de Campinas, a maior arquitetura de adobe do Brasil. O interior é todo de madeira entalhada, uma beleza. Pena que o estado de conservação desse patrimônio cultural é precário. Nada diferente de outras coisas que vemos por ai. A Catedral está em obras de recuperação já faz uns cinco anos.

Depois fizemos um almoço ao ar livre na casa dos pais da Bia. O dia estava lindo, ensolarado, sem chuva, sorte para um dia de março. Mas sabe como é festa de criança, tem mais adulto do que qualquer coisa. E os trigêmeos não gostaram muito da movimentação, era muita gente, muito barulho.

[a familia da Bia]

[minha familia]

junho 24, 2008

Férias de verão em Ubatuba

[cedinho eles ja estavm de pe. Bia, a prima e os 3 no carrinho]

Quando chegou o fim do ano e com ele o verão, tiramos as primeiras férias com os trigêmeos. O destino foi Ubatuba, casa do Vovô e da Vovó. E a temporada foi muito legal, os pequenos adoraram. Os preparativos deram bastante trabalho, foi quase uma mudança. O porta-malas do Doblozão foi lotado e ainda colocamos um box no teto do carro, que também foi cheio.

Vamos ver se me lembro de tudo o que levamos. Levamos uma mala gigante com roupas pros tri. Passamos 10 dias na praia e isso pra crianças significa roupa adoidado, apesar do calor. Uma mala pequena pra Bia e outra pra mim. Fraldas, leite de lata, utensílios como mamadeira e outros apetrechos. A mesinha dos tri, os carrinhos de bebê, um saco de brinquedos. Ainda comprei umas placas grandes de EVA, pra colocar no chão e servir de tapete pra eles ficarem no chão.
Tivemos ajuda de 3 pajens durante o dia e à noite era por nossa conta. Esses 3 nos ajudaram por muitas vezes depois e ainda hoje aparecem pra dar uma mao. Acho que uma ou duas noites tivemos folga e alguém ficou com eles por algumas horas, pra que pudéssemos sair e relaxar um pouco. Não preciso dizer que os 3 adoraram. Eles já conheciam a praia, de um fim de semana anterior que havíamos passado por lá. Os 3 adoram água, tem uma relação especial com o mar, pedem pra ir pra praia, falam que estão com saudades. Essas foram as primeiras férias de muitas na praia.

Pai d’égua

Ter trigêmeos foi um acontecimento tão grande pra mim que me transformou num paizão. Acho que seria um acontecimento grande pra qualquer um, acho que é um grande acontecimento, com poder transformador mesmo. Eu já tinha um grande desejo de ser pai, talvez tivesse uma aptidão natural pra lidar com crianças, por que sempre gostei dos pequenos, mas ser pai de tri me transformou.

Bia sempre me diz que eu tenho esse dom de cuidar, de educar crianças, de lidar e brincar com elas, que sou um paizão. Sinceramente, não acho que eu seja um paizão, não. Pra pai de trigêmeos me considero um pai bem normal. Também não acho que seja dom, acho que foram qualidades que adquiri e desenvolvi ao longo da vida. Sempre fui muito atento às coisas que me diziam, aos comportamentos que me mostravam como certos, aos padrões de educação. Como minha infância foi naquele quintal no Brooklyn, ficava muito tempo dentro de casa. E como a casa estava sempre cheia de mulheres, aprendi muito com elas. Talvez isso não seja muito diferente da educação de qualquer menino no Brasil, deve haver vários tratados de sociologia falando sobre a estrutura matriarcal da família brasileira. O homem sai de casa e as mulheres tomam conta de tudo.

Parêntesis: uma das coisas que aprendi na infância, de olhar, foi cozinhar. Eu gostava de ficar olhando como se preparavam as coisas, os pratos e então aprendi criança o básico da coisa. A Babá foi uma grande professora. Não evolui muito ao longo do tempo, mas quando se tem a base, fica mais fácil. Depois vieram os programas de culinária na TV e então voltei a aprender olhando.

Bom, então eu tinha aquela aptidão pra ensinar, educar, tratar com crianças e com o trio mergulhei de cabeça nisso. Ao mesmo tempo em que me preocupo com a formação deles como pessoas íntegras [isso significa, portanto, que dou bronca, ponho de castigo, oriento da maneira que considero a melhor e da melhor maneira que posso – frase do meu cunhado: “a gente faz o que pode...”] entro de cabeça nas brincadeiras com eles, participo pra valer do universo infantil deles [isso quer dizer que tenho meus momentos de parecer um bobalhão – frase da mídia: “não basta ser pai, tem que participar...”].

Acho que uma das contribuições importantes que tenho dado em relação a educação dos trigêmeos é ter certeza daquilo que estou fazendo. Ter uma postura firme, clara e uma atitude franca e sincera é uma das coisas mais importante pra lidar com crianças. Eles precisam muito disso. Não estou dizendo que não tenha duvidas em relação às escolhas que faço na educação deles mas estou sempre seguro do que estou fazendo no momento, mesmo que depois tenha que rever o que foi feito. E quando a revisão é feita, também é necessário estar seguro.

Outro dia li um texto que falava que somos a primeira geração que é dominada pelos filhos. Dizia que somos a primeira geração que não obedeceu aos pais e a primeira geração que obedece aos filhos. Eu achei uma bobagem. Pelo menos não me reconheci nessas afirmações. Rebeldes sempre houve, em todos os tempos, assim como pais que não sabem como lidar com seus filhos.

De qualquer forma, tenho uma relação muito legal com os 3. Uma relação de respeito mútuo. Sim, eles me respeitam quando falo o que tem e como tem que ser feito, mas também respeito o espaço individual de cada um deles, as manifestações da personalidade de cada um. Eles sempre serão meus filhos sim, mas vai chegar o dia que não me quererão por perto e ainda o dia em que eu não estarei por perto.

Bom, basta do momento auto-ajuda!

Nota explicativa: quis brincar com a idéia de paizão usando uma expressão que contivesse a palavra pai. Apesar de não fazer parte do meu vocabulário pessoal, usei pai d’égua, expressão muito utilizada no norte e nordeste do país, que significa algo em torno de bom, grande, etc.

junho 21, 2008

Coisa de infância

Remexendo nas fotos antigas, achei uma com o Xodó. Ele era meu grande companheiro. Enquanto minhas irmãs brincavam de boneca eu brincava sozinho ou com o cachorro. Morava numa casa na rua Martim Francisco, hoje La Place, no Brooklyn em São Paulo, que tinha um bom quintal, onde passei minha infância, até os 11 anos. Depois disso meu pai arranjou uma mudança pra Campinas, onde os trigêmeos nasceram.

Minhas lembranças dos tempos de infância são muito esparsas. Acho que lembro de coisas dos 6 anos em diante. Sempre que volto a esse período, as primeiras imagens que me vem a cabeça são da casa de minha avó, na rua Inglaterra, eu desenhando no chão. Da rua Martim Francisco lembro de coisas a partir dos 7 anos, eu acho. A memória que tenho desse tempo é um pouco carregada de melancolia, uma certa tristeza que ainda hoje não consegui explicar.

Se por um lado a mudança pra Campinas foi boa, por outro foi cheia de perdas. Sim, deixei pra trás uma parte do meu passado que jamais tive contato novamente. Os amigos do primário desapareceram, mesmo sempre os procurando como se estivesse em busca de alguma coisa de um tempo que quase se apagou. Recentemente reencontrei a primeira pessoa que conviveu comigo nessa época, a Anne. Foi emocionante, afinal, faz quase quarenta anos. Antes disso, já tinha encontrado o Mario, que freqüentou a mesma escola pré-primária, mas não tínhamos sido colegas. Nos identificamos por causa das mesas da escola, eram bem diferentes.

Essa coisa perdida, essa sensação de que tive uma infância triste, nunca me deixou. Ao contrário, me fazia querer ter filhos pra compensar a perda. Pensava que poderia recuperar o tempo perdido com os filhos, que poderia viver a infância que não tive através dos filhos. E isso se cumpriu e tem se cumprido a cada dia.

Eu me transformei em criança mais uma vez. Resolvi me jogar no chão com eles, me entregar completamente às emoções da infância. E realizei esse sonho antigo de ter uma infância feliz, cheia de brincadeiras, travessuras e peraltices. Agora tenho novas memórias de infância, ou seriam memórias renovadas de uma infância roubada, que ganhei de volta como presente dos trigêmeos. Eles são esse presente, como um reflexo no espelho, uma reflexão da minha infância no presente. Nada disso seria possível não fosse o imponderável.

P.S.
Acho que eu deveria batizar o imponderável, já que ele se transformou num personagem importante em minha vida. Nelson Rodrigues, ao comentar certas coisas que se achava impossível de acontecer em jogos de futebol, se referia ao ‘Sobrenatural de Almeida’, responsável por acontecimentos inimagináveis. Vou pensar em um bom nome...

junho 18, 2008

Conversas com o imponderável

Até hoje me pergunto por que sou pai de trigêmeos. Pois é, é difícil aceitar o imponderável recaindo sobre sua vida. Tudo bem, a vida é assim mesmo, imprevisível, tudo pode acontecer, a qualquer momento uma surpresa. Como dizem por aí, certo na vida só uma coisa, que é passar desta pra melhor. Quer dizer, isso para aqueles que são otimistas. Tá certo, podia ter acontecido outra coisa, uma coisa ruim, sei lá, podia ter sido uma coisa triste. Mesmo assim, vou dizer, não é fácil encarar uma coisa que vem assim, completamente sem aviso, de repente, te pegando desprevenido e mesmo na completa contramão do que você estava planejando.

Sim, por que eu nunca quis ter tantos filhos assim. Bom, é melhor explicar antes de arrumar confusão. Eu adoro os meus trigêmeos, tenho paixão por eles, tenho por eles aquele amor incondicional que eles me fizeram descobrir. E eu queria ser pai sim, eu pensava até em ter apenas um filho , mas planejava outras coisas. Planejamento é algo na minha vida que se apresenta de duas maneiras diferentes. Uma é que eu nunca planejei muito minha vida, sempre deixei correr, easy going, coisa como ‘não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar, é ele quem me carrega como não fosse levar’, grande samba do Paulinho da Viola. A outra é que sei como planejar as coisas pra acontecerem da melhor maneira possível, a melhor logística pra tudo, pra não ter erro, facilitar os processos. Sou bom nisso, sei lá por que cargas d’água. Mas isso funciona pra outras coisas, profissionais e não pra minha vida pessoal, privada.

A primeira vez que resolvi planejar minha vida foi depois que me casei com a Bia. Quem gosta de fazer isso e está acostumado a fazer, sabe do que estou falando. Eu olhei pra minha vida tentando traçar um caminho para o futuro, olhando para um futuro onde eu gostaria de chegar. Coisa do tipo, bom daqui a dois anos quero fazer isso, então tenho que preparar tal e tal coisa; daqui a cinco anos quero estar ali, então traçar os passos para chegar lá; e daqui a dez, isso, aquilo e aquilo outro. Até que funcionou muito bem nos 4 anos de casados antes dos filhos. E eu estava gostando e muito da brincadeira.

Parece que foi castigo ou peça da vida. ‘Ah é, você está gostando de planejar? Acha que pode ter sua vida nas mãos? Ah é, então você vai ver só como não dá pra seguir um plano quando se trata da sua vida!’ E aí Cabong! [Quem se lembra do Pepe Legal e seu violão?] Lá vem uma viola na cabeça! Alguns vão dizer taí, o cara está se sentindo vítima da própria vida. Eu mesmo me pergunto isso algumas vezes, será que me sinto vitima do imponderável, do lado imprevisível da vida? Às vezes sim, acho que me sinto roubado dos planos que fiz, da vida que queria ter e estava construindo. Mas também sei que a graça da vida é exatamente contar com os imprevistos, com o drible inesperado, com as combinações mais inusitadas.

Preciso confessar uma coisa. Pois é, tive uns filhos perdidos na vida, coisas da juventude. Sofri muito com isso, era muito jovem, ficou uma cicatriz profunda que tem suas marcas ainda hoje. Isso foi uma das coisas que me fez encarar a paternidade como uma coisa muito séria e talvez tenha me feito postergar a aventura de ser pai por muito tempo. Pra quem acredita e crê esse fato é um prato cheio. Claro, o que foi perdido e te pertencia agora voltou, é seu. Mesmo sem acreditar muito eu sempre falei isso, ‘tá vendo, esses são os filhos que perdi e que agora vieram me encontrar de novo!’

Saber de todas essas coisas não muda a minha situação. Na verdade me sinto outra pessoa depois dos trigêmeos. Não sei se melhor ou pior, mas sou outra pessoa. Como sou bastante auto crítico, acho que sou pior hoje do que era antes. Não sou tão bem humorado, não estou na forma física em que estava, não tenho disposição pra encarar qualquer coisa, prefiro ficar em casa a sair pra ver pessoas, tenho menos paciência e sou menos tolerante com certas coisas e por aí vai. Acho que ser transformado em pai de trigêmeos da noite pro dia foi um peso muito grande pra mim. Acho que envelheci dez anos em quatro. Não tô brincando não! Imagina isso acontecendo com alguém idealista como eu que encara as coisas que faz como missão, que mergulha de cabeça e se doa totalmente por uma causa e aí talvez dê pra entender como me sinto.

Então fico povoado de sentimentos contraditórios, extremos, que vão da profunda alegria de ter três filhos maravilhosos, saudáveis, espertos à profunda tristeza por não poder controlar os passos de minha própria vida. De um lado, eu realizei um sonho de, ao ter filhos, refazer minha infância ao vê-los brincando. Tenho uma certa melancolia da minha infância que foi um pouco solitária. Eu tenho três irmãs e então brincava muito sozinho. Eu contava estórias e segredos pro meu cachorro, um vira-lata desses de pelo amarelo e patas brancas, chamado Xodó, sabendo que dali não sairia nenhuma palavra sobre nada dos meus sonhos de menino. Do outro lado olho para aquilo que poderia ter acontecido e não aconteceu, penso no que poderia ter sido e não foi. E isso me entristece, mesmo sabendo que ‘SE’ na vida não existe.

[quem sabe o que poderia ter sido...]

Tenho que confessar outra coisa. Não tive muita sorte na minha vida profissional. Escolhi trabalhar com educação num país em que educação é artigo de luxo e não um bem de primeira necessidade, em que não há projeto de educação, em que o nível de educação das pessoas não melhora e isso já se tornou até parte da nossa cultura, mais um item da cultura de privilégios. Na verdade, acho que não escolhi trabalhar com isso, fui escolhido [a estória da missão], acho que é uma coisa de família que tem um longo histórico [quem é do Rio já deve ter ouvido falar do Colégio Jacobina]. Então, ser professor no Brasil é um sofrimento danado, por que não é uma atividade reconhecida com o valor que deveria [a estória do ideal]. E eu sofri muito na universidade em que trabalhei por 12 anos. Em 2002, no auge de uma crise que me fez desacreditar totalmente da educação no país, pedi aos céus por alguma coisa que pudesse me dar alento ou desse sentido a minha vida me tirando daquele buraco em que me encontrava. Algum tempo depois, a história dos trigêmeos teve início. Acho que o imponderável me escutou...

A oficina de ladrilhos


Faz tempo que quero mostrar essas fotos da oficina de ladrilhos [clique sobre a imagem pra ver todas]. Não me lembrei delas quando escrevi o post sobre o quarto dos trigêmeos. Acho que a oficina foi uma idéia feliz. As crianças adoraram. Foram 2 dias de oficina, 20 e 23 de dezembro de 2003. Foram muitas crianças que participaram. Era só aparecer aqui em casa que recebia um ladrilho pra desenhar e pintar. E ainda teve a participação à distância, direto do Colorado.

Gostei de rever o quarto das crianças vazio, sem nenhum móvel, berço, nada. Gostei de rever as crianças que pintaram os ladrilhos. Hoje, 4 anos depois, eles estão muito diferentes. Quem tinha 4 anos então, agora tem 8. Quem tinha 8 agora tem 12. São diferenças enormes pra crianças, elas mudam muito em pouco tempo.

Segue aqui o nome de cada uma das crianças que contribuiu com ladrilhos: Gui, Marina, Dani [filhos da Guy], Gabriel, Camila, Guga [filhos da Be], Carol, Rafa [filhos do Miltinho], Julia, Alex [filhos da Carolyn]. Ainda a participação da Bia e do André. E num outro dia um outro André, filho do Robertão.

junho 17, 2008

Saem os berços, entram as camas

Apesar dos berços ‘patente’ serem lindos, começou a ficar complicado cuidar dos 3 dentro do berço ou em cima do trocador na cômoda. Eu comecei a ficar com as costas doendo de ter que me afundar no berço pra ajeitar um, trocar o outro, dar leite pro terceiro. Alem disso, eles começaram a querer sair do berço por conta própria. Certa manhã, pegamos o Mario em cima da cômoda todo sorridente, feliz da vida. Como o moleque tinha um histórico de tombo, histórico pequeno mas de peso, resolvemos achar uma solução pra evitar sustos, tombos e outros desassossegos.

Camas ‘patente’ são muito bem boladas. O estrado é a própria estrutura da cama, que é desmontável. Na verdade são 3 pecas: pé, cabeceira e estrado que encaixados formam uma estrutura bem firme, por conta do estrado ter dois varões paralelos a uma distância de 15 ou 20 centímetros entre si. Os berços seguem o mesmo princípio.

Então, colocando o estrado do berço patente no chão, teríamos uma caminha baixa mas alta 20 centímetros do chão. E foi o que fizemos. Até mudamos a disposição das caminhas no quarto. Eles adoraram, podiam entrar e sair da cama quando quisessem. Nós ficamos tranqüilos por que sabíamos que ninguém ia cair da cama. Era um barato vê-los acordar e sair da cama.

Ficamos com essas caminhas no chão até que chegou o dia em que eles não cabiam mais, de tão compridos ficaram. Eu tinha guardado o beliche em que meu pai dormiu com seu irmão durante a infância. Pois é, o tal beliche deve ter quase 80 anos e esta perfeito. E é um beliche patente. Tentamos usá-lo como beliche para os dois meninos, mas deu tanta briga pra decidir quem ia dormir em cima...a cada noite era um que queria dormir ali. Achamos que isso passaria depois de um tempo, mas não passou. Então desmontamos o beliche e fizemos duas camas pros meninos. Minha sogra achou uma cama ‘patente’ idêntica que foi dada de presente pra Laura.

junho 16, 2008

Fraldas, fraldas, fraldas...

Esse texto escrevi no final de 2006, depois que terminei minha tese. Mostrei pra algumas pessoas que gostaram. A idéia, então, era começar e escrever essa minha história com os trigêmeos. Mas, no fim, comecei a fazer outras coisas e não dei continuidade ao projeto, só retomado agora com o blog.

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Essa era uma área com a qual não me dava bem, não conseguia entender, e ainda não entendo, essa fraqueza do ser humano. É demais, o cheiro, a situação, a idéia da fralda, o perigo de resvalar a mão naquela coisa gosmenta e nojenta, não sei...ter que limpar a bunda de alguém é, pra mim, coisa do outro mundo. Era! Hum, vocês podem imaginar...

Era, porque com três de uma vez não tem jeito, tem que entrar na dança. E não dá pra ficar só na figuração, tem que ir lá e ser protagonista, colocar a mão na massa pra valer. Não tem desculpa não! Paguei meus pecados, a língua e, pelos meus cálculos, estou com crédito nesse quesito, resta saber como e em que vou poder usá-lo. E a fase de tirar a fralda, sabe o que é isso? É, você pode até saber, mas com três é muito, muito pior. Passo mais horas no banheiro olhando pras crianças sentadas naquela privadinha, um piniquinho incrementado, perguntado ‘já fez?’, ‘tá saindo?’, ‘vai fazer?’, do que lendo o jornal. E quase nunca dá certo, não fazem nada, quando fazem fizeram antes de chegar, enquanto você corre com eles pro banheiro ou depois, quando você já está recolocando a calça neles. E depois, se fazem, tem que limpar o pinico, jogar aquela coisa na privada e chamar a criança pra ver o troço descer, ‘vamô falá tchau pro cocô!’. Desculpe, mas acho isso uma tragédia!

Com três é uma loucura. Quando um faz cocô, mesmo que na fralda, os outros querem ver. O que fez também quer ver. O cocô desperta uma curiosidade impressionante, é uma obra, tem que ser admirada. Ai você vai lá e tira aquela fralda, com todo o cuidado pra não provocar nenhum acidente mais grave, mais grave do que um cocô na fralda. Sim, o cocô na fralda é um acidente grave e existem outros muito mais graves. Virar a fralda sem querer, deixar cair a obra por cima do trocador, no chão ou em cima da assistência. Claro, tem platéia, os outros dois olhando atentamente, de perto, bem de perto, ‘quero vê, quero vê!’. E o cheiro? Nossa...não tem nada pior! Que horror! Eu não agüento, prendo a respiração, fico gemendo, sofrendo, querendo acabar logo a árdua tarefa, mas com um cuidado danado. Faço tanto estardalhaço, que as crianças começaram a me imitar. Era deitar um deles pra trocar que eles já começavam a gemer. Um sarro! Bom, aí você dobra a fralda fazendo um tipo de envelope que guarda o material e evita que ele contamine tudo ou joga tudo na privada pra dar aquele tchau tão esperado. Limpa o bumbum da criança, passa uma pomada se for necessário, coloca outra fralda. E o cheiro fica...fica no ar, no nariz, sei lá onde, mas fica. E por um bom tempo.

Tirar a fralda de três não é nada fácil. Primeiro porque cada um se desenvolve de um jeito diferente, num ritmo diferente de amadurecimento. A Laura, como todas as meninas, vai puxando a fila e vai indo bem. Os meninos ficam de olho, prestando atenção em tudo, mas como todos os meninos, são mais distraídos, são mais aéreos, vão mais devagar nessas coisas. Acho até que são mais apegados às suas obras que as meninas, mais possessivos, gostam mais dessa coisa escatológica. A cada cocô dão risadas, falam coisas, comentam, ‘credo!’, dizem. Outro dia, num fim de semana, estavam os dois meninos sem fralda, só de calção. De repente, um fica meio sumido. Quando vamos ver, tá brincando na sala e, no chão, ao lado de seu pé, um belo troço, bem formado, que deixou um rastro em sua perna, emporcalhando o calção, tudo. Tragédias assim são comuns, as chances de acontecer uma por dia são enormes. É, acho que vão demorar mais pra tirar a fralda.

Mas já está mais do que na hora. Eu me sinto no limite de trocar fraldas, estou quase dizendo chega, jogando a toalha. Não é brincadeira não. São 30 meses de fraldas, numa média, por baixo, de 15 fraldas por dia. Isso significa que, por mês, gastávamos 450 fraldas, o equivalente a uma média de 12 pacotes. Bem, multiplique 450 por 30 e vai ver quanto gastamos até hoje. São no mínimo 13.500 fraldas ou 360 pacotes. Sabe o que é isso? O mesmo que jogar pelo lixo metade de um carro popular zero, ou uma viagem do casal de vinte dias pra Europa ou ainda a reforma da cozinha que queríamos fazer. Isso tudo literalmente jogado no lixo, na latrina, virou esgoto, virou merda! Sem chance de reciclar.

Bom, isso só pra falar de fraldas. Com 2 anos e meio as crianças estão a mil por hora. É preciso ter muita energia pra acompanhar o pique deles. Desde que eles nasceram, passamos por muitas coisas, muitas fases diferentes. Todas passam, todas assustam, todas cansam. E muito. A cada nova fase, preparamos a estrutura necessária pra que passe da maneira menos traumática e dolorosa possível, tanto pra eles quanto pra nós. Sempre que encontramos outros casais que tem um filho da mesma idade ouvimos a mesma frase: ‘Mas como vocês conseguem? Nós com um só estamos quase ficando loucos!’ Nessas ocasiões temos duas reações, depende de nosso estado de espírito. Se estivermos bem, de bom humor, a vontade é rir enquanto dizemos ‘com um só vocês estão no paraíso’. Se estivermos cansados, o que é mais comum, ficamos olhando com cara de espanto e a vontade é pular no pescoço de um deles e esganar, por que um só, me desculpe, é baba! Outra coisa que escutamos muito, essa de casais com filhos mais velhos, é associar uma idade das crianças com dias menos turbulentos e com menos trabalho. ‘Ah, quando começarem a andar vai ser melhor’, ‘depois que tirarem a fralda vai melhorar’, ‘com quatro anos, vocês vão ver como é bom’, ‘depois dos sete anos é uma beleza’. Eu, sei não, sou bastante cético. Acho que não tem jeito, melhorar mesmo, acho que só topando a parada. Tá na chuva é pra se molhar, não tem saída. Se não pode contra eles, junte-se a eles.

junho 13, 2008

A contribuição de Fidel

À medida que o trio ia crescendo os cuidados com eles precisavam acompanhar as demandas que eles apresentavam. Então, começava a ficar difícil dar a comida deles nas cadeirinhas colocadas sobre uma mesa. E eles precisavam aprender a sentar pra comer. Arrumar 3 cadeirões seria uma solução, mas que ocuparia um espaço grande, principalmente pelo uso restrito apenas nas horas das refeições.

Conversando sobre o assunto na terapia [pois é, eu fazia análise nessa época, que saudade!], disse que gostaria de arrumar uma mesinha em que os três pudessem comer juntos, no mesmo horário e mesmo lugar. A idéia por trás disso era que uma pessoa poderia dar conta da tarefa. Interessante notar agora que sempre fiz um esforço para juntar os 3, deixá-los sempre juntos. Eu os colocava juntos num dos berços, sentados em roda e agora queria juntá-los para comer. Depois ainda viriam mais coisas juntos: banhos, brincadeiras, tudo.

Bom, minha terapeuta me deu uma dica preciosa. Quer dizer, sei que alguém me deu a dica, não me lembro exatamente quem. Recentemente entrei em contato com ela, depois de 2 anos. Ela está na Itália, na região da Puglia, vivendo próximo a Bari. Ao conversar com ela, me veio a sensação de que teria sido ela a me dar a idéia. Falando sobre a tal mesinha, ela comentou comigo que em Cuba as creches usavam uma mesinha quadrada, baixa, em que se sentavam 3 crianças e a monitora, ou professora, cuidadora, não sei.

Então, comecei a pensar na possibilidade de fazer uma dessas mesinhas pros trigêmeos. E também as cadeirinhas. Eles tinha que ficar firmes nas cadeiras, já viu criança quando ainda não sabe sentar direito, cai pro lado, escorrega pra baixo da mesa, essas coisas. Então imaginei uma mesinha que fosse tipo um cadeirão, em que eles sentassem e ficassem encaixados, sem perigo de cair e escorregar.

A mesa era quadrada e em 3 dos seus lados tinha um corte em semicírculo pra encaixar a criança. O quarto lado era reto, onde ficaria quem fosse cuidar do trio. A cadeirinha tinha braços dos lados e, ao invés daquelas correias no meio das pernas que existem nos cadeirões tradicionais, coloquei uma espécie de trava pra que eles não sumissem de repente por debaixo da mesa. Fiz um desenho meio na perna mesmo [projeto pra gente mesmo é meio desse jeito], fui numa loja comprar o MDF, fui a uma marcenaria pra cortar as peças nas medidas certas, comprei os parafusos e eu mesmo montei a tal mesinha. Depois pintamos e envernizamos. Uma vantagem foi que pensei na possibilidade de desmontá-la para poder levar pra outros lugares. E nas férias levamos pra praia, o que foi muito legal.

E não é que funcionou super bem! eles pareciam gostar do novo lugar que tinham ganho. Pra dar a comida era perfeito. Era um pouco baixa, mas a idéia era que quem cuidasse deles se sentasse no chão. Agora tínhamos um lugar exclusivo pra bagunça das refeições. Eles podiam sujar tudo a vontade, babar pra valer, fazer todas as experiências gastronômicas [e outras nem tanto] que tivessem vontade. E também era ótimo deixá-los ali por um tempo, sentados, brincando. Talvez o mais legal de tudo era que eles sabiam que aquilo era deles, que era território deles e que seria principalmente para o ritual das refeições.

Usamos a mesinha por bastante tempo, acho que por uns 2 anos e meio. Todo mundo achava a idéia ótima. Alguns diziam que eu deveria fazer um projeto pras creches da cidade, patentear a coisa, montar algumas pra vender. As idéias não eram de todo más, mas acabei não fazendo nada disso. Recentemente, fiz um desenho mais definido a pedido de uma outra mãe de trigêmeos. Só pedi a ela que me desse crédito pelo projeto. Aliás, pela releitura da mesinha do Fidel que, de fato, nunca cheguei a ver.

junho 12, 2008

Flash! 2 – Ô fase...

[belas toucas hein??!!]
[princesinha]
[homem aranha, esse nene me pertence]
[que agua gostosa...]
[pijamas novos]
Não estou reclamando não, já passamos por fases muito piores. É muitas vezes pior acordar a noite e ter que trocar centenas de fraldas do que agüentar a variação de humor da idade que têm agora. Sim, porque, eles estão ótimos, brincando, dando risada e, de repente, começam a esbravejar, chorar, gritar, reclamar, porque alguma coisa não aconteceu como eles queriam.

Aí choram, esperneiam, brigam. Eu me desgasto quando tenho que dar uma bronca neles, quando tenho que colocar de castigo. Fico arrasado, minhas energias se esvaem, fico me sentindo um trapo. Mas nada que não passe em 15 minutos, quando eles vêm conversar, fazer carinho, ficar por perto. Não dá pra resistir às carinhas deles.

De um modo geral, acho até que eles não dão muito trabalho não. O fato de serem 3 da mesma idade gera alguma briga por brinquedos, ciúmes e outros motivos. Mas também por isso dá alguma tranqüilidade quando conseguem engatar nas mesmas brincadeiras, o que tem sido freqüente. Por exemplo, adoram se fantasiar ou brincar de cabaninha, ou andar de triciclo pra l’a e pra cá. Outra vantagem é que os programas de TV são os mesmos. Acho que eles se sentem muito felizes por terem companhia pra brincar. Pelo menos, eles dão bastante risada. E aprontam um monte!

Como todas as fases, essa também vai passar. E se melhora de um lado, piora de outro. Agora, dá uma olhada nas carinhas deles!

Crescendo

[Laura, Mario e Diogo (deitado)]

Criança muda todo dia. A cada dia uma pequena coisa se acrescenta ao seu repertório de habilidades. Aqui em casa, com os trigêmeos, nos tínhamos como comparar o desenvolvimento de cada um, fazendo um esforço, claro, pra não fazer comparações negativas ou que privilegiassem um ou outro.

Contudo, era inevitável perceber que a Laura partia na frente em quase todas as coisas. Ela já nasceu na frente dos meninos, apesar de ser a ultima a sair da barriga. O tal do Capurro dela foi muito melhor que o dos meninos, ou seja, ela tinha uma idade gestacional mais madura, nasceu maior e mais pesada.

Quando foi a vez de rolar ela rolou primeiro, depois foi ficar de bruços e levantar a cabeça, e ela também foi pioneira. Na hora de sentar, ela sentou primeiro. Quando chegou a hora de ficar em pé segurando em alguma coisa, ela ficou primeiro. Na hora de engatinhar, ela saiu na frente dos meninos. E quando foi a vez de sair andando, ela também foi a líder. Sim, porque os meninos ficavam olhando as proezas da irmãzinha e saíam correndo atrás do prejuízo. Quer dizer, correndo é modo de dizer. Era engraçado ver a cara deles olhando a Laura fazendo as coisas. Ficavam meio espantados, curiosos e faziam cara de quem diz ‘como é que ela faz isso?’

Depois de poucos dias, o Mario, sempre muito observador, estava fazendo a mesma coisa que a Laura. A única coisa que o Mario fez primeiro foi conversar. Era conversador e adorava ficar no tatibitati com a vovó Maria. Por incrível que pareça a Laura era mais calada. Então o Diogo ficava olhando os dois sentados ou engatinhando ou andando e ficava bravo por que ainda não conseguia. Era uma graça vê-lo querendo se superar e se juntar aos irmãos. Ele protestava, fazia cara de muxoxo, ficava chateado. Mas o Diogo fez duas coisas antes dos outros dois. Uma foi segurar a mamadeira sozinho. Incrível como ele adora líquidos, sucos, leites e afins, até hoje. A outra coisa foi bater palmas. E ele adorava fazer isso. Ainda hoje ele demonstra habilidades manuais.

[Mario, Laura e Diogo batendo palma]

Quando o Diogo conseguiu andar foi uma farra. Nunca o tínhamos visto tão contente antes. Ele ficou eufórico, batia palmas, dava gargalhadas, queria sair correndo. Foi muito legal. Engraçado isso, de repente, depois de um tempo, ele saía fazendo as coisas. E acho que andar demorou uns quatro meses até que ele resolvesse que estava pronto pra sair andando.

Com os 3 andando, já viu, né! Pernas pra que te quero. E coluna! Por que, sabe como é, tem que segurar a mãozinha e ficar de lá pra cá com eles at’e acabar a pilha. Mas, sobrevivemos. E bem...

junho 11, 2008

Na roda

[Diogo, Mario e Laura na roda]
Uma coisa que fizemos e que foi muito legal foi montar um ‘tatame’ de EVA na sala de TV, que por fim se transformou na sala de bagunça dos trigêmeos. Você já deve ter visto, é super comum, daqueles de peças coloridas de encaixar que tem as letras e tal? Também compramos uns 20 travesseiros desses bem baratinhos e umas fronhas idem. Então colocávamos os 3 em roda no ‘tatame’ e apoiávamos as costas deles com os travesseiros. Arranjávamos uns brinquedos no meio e estava feita a brincadeira. Com o tempo, eles passaram a sentar sozinhos e apenas colocávamos os travesseiros atrás deles pra que não batessem a cabeça. Eles se divertiam e era muito divertido de olhar.

junho 10, 2008

Chupetas

Esse foi um recurso que tivemos que usar. Eu, particularmente, acho chupeta um treco horrível. Mas, que ajuda, ajuda. Não é a toa que chupeta em inglês se chama pacifier que traduzindo literalmente quer dizer pacificador. Melhor definição, impossível.

No começo tínhamos uma chupeta pra cada um. Mas, com o tempo, descobrimos que precisávamos de muitas, muitas mais. Porque o tal objeto é pequeno, se perde, se esconde na hora que você mais precisa pacificar a ferinha. Mesmo com aquele barbantinho que amarra a chupeta na roupa do bebê. Aliás, por mais de uma vez prendi o tal clipe desse barbante na pele das crianças. Eles berravam. Eu prendia o tal clipe e depois de 10 segundos ouvia um berro dos mais horripilantes. Pronto, tinha mordido a pele de um com aquilo. Bom, então compramos várias, colocávamos duas pra cada um no uso e ainda tínhamos um estoque guardado.

Quando eles começaram a engatinhar, um dos esportes prediletos deles era roubar a chupeta do outro. Acho que quem inventou isso foi o Mario. Era muito engraçado ficar observando essa ação, quase um ataque de captura de um objeto, uma estratégia de caça. Um roubava do outro que roubava do outro e assim sucessivamente. Claro que eles brigavam choravam, ficavam bravos uns com os outros. Mas era muito divertido.

Mesmo não gostando de chupetas, reconheço que sobrevivemos melhor com elas do que sem elas. O difícil foi tirar a chupeta, o que só aconteceu com 4 anos. Tudo na vida tem o lado bom e o ruim, fazer o que???!!!!

junho 08, 2008

Uma nova economia doméstica

Esse post foi escrito em 2004, em forma de carta para futuros pais de múltiplos. Foi o primeiro texto que escrevi sobre o que é ser pai de trigêmeos. Durante a gravidez da Bia eu procurei por grupos de discussão sobre o assunto, acho que buscava uma forma de conforto entre iguais. Logo depois, uma das participantes montou um site chamado múltiplos, bastante interessante e que contém um fórum de discussão. Havia ali um espaço para os pais se manifestarem para outros pais, com alguns tópicos pré-definidos. Um deles era sobre gastos. Os comentários da época foram muito interessantes, todos de mães, nenhum de pais. O mais legal é o de uma mãe que disse considerar esse texto o mais apaixonado texto sobre economia que ela já tinha lido [inserido depois do texto].

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Caros futuros pais, Tenho uma importante notícia: vocês vão sobreviver! Claro que vão! Mas vai ser tudo diferente, muito diferente. O começo foi bem mais fácil do que eu imaginava. Dois chás de bebê, um para as moças, outro para os homens, com direito a churrasco e chopp, garantiram um belíssimo estoque de fraldas: quase duas mil que duraram 4 meses!! Aliás, os homens foram mais solidários, deram muito mais fraldas, talvez porque fiquemos mais assustados com essa história.

A grande mudança mesmo foi no fluxo de pessoas e gastos com colaboradoras. Temos duas moças trabalhando em casa, que fazem tudo, lavam, passam, arrumam e principalmente cuidam das crianças. Fora isso, nos primeiros meses as avós vieram ajudar todos os dias e noites, as tias apareciam, uma loucura. Algumas noites eu me senti em Las Vegas, luzes acesas, gente andando pra lá e pra cá... Mas só isso já triplicou nossos gastos com material de limpeza, produtos para lavar roupa, comida, gás, eletricidade e água, fora os salários e condução das 2 colaboradoras. Economizamos muito não tendo ninguém à noite. Fica cada vez mais fácil cuidar deles e à noite temos os nossos momentos com os 3.

Outra coisa que pesa um pouco é o leite. Qualquer um deles (Nan, Aptamil, etc.) é caro e o consumo é grande. Nossos 3 já consumiram 1 lata e meia por dia, mas agora, tomando suco, comendo frutas e papinha salgada, o consumo caiu para 1 lata a cada 2 dias. Logo, espero, estarão tomando o famoso leite de caixinha, UHT.

Em compensação, os gastos com frutas subiram. Tanto que agora compro frutas na Ceasa. 20 quilos de laranja duram de 8 a 10 dias e uma dúzia de bananas não dura mais de dois dias. Mas vale a pena. O quilo da laranja sai por 30 centavos!!! E agora começamos a comprar fraldas. São 15 por dia mais 3 noturnas: 450 + 90 = 540, ou seja, 45 dúzias ou 9 pacotes de 60 fraldas. Tem que procurar o melhor preço e como não temos muito tempo para ir comprando aos poucos, fazemos estoques. Ufa!!

Mas até agora também não compramos roupas, os amigos vão passando as roupinhas dos filhos, as tias vão dando presentes e assim vai. 2 berços são emprestados, só compramos o terceiro. Compramos muitas mamadeiras, bicos e fraldas de pano pra limpar a boca. Cadeirinhas de carro, pegamos as dos primos que cresceram, mas tivemos que comprar um carrinho de gêmeos. Um carrinho individual foi emprestado. Também tivemos que trocar de carro para que coubessem os 3 e mais alguém para ajudar e ainda os carrinhos.

Isso tudo abalou muito nossas contas no início, mas depois nos reequilibramos, refizemos contas e vamos indo em frente.

Tudo isso é compensado pela total ausência de gastos com roupas para nós, pequenos luxos gastronômicos que nos permitíamos, saídas para um cinema com direito a choppinho... Nosso lazer agora é na casa dos avós, no clube ou na praça aqui em frente ao apartamento.

Nem por isso deixamos de nos divertir – e muito – e de viver. Estamos mantendo nossas contas à base de planilhas de custo e algum esforço, mas vai dando certo. Bia voltou a trabalhar e está feliz. Eu vou achando espaço para terminar minha tese de doutorado. As crianças estão super saudáveis e felizes.

Futuros pais de múltiplos, Coragem e, sobretudo, calma, porque tudo se ajeita. Abraços, Octavio Lacombe

Comentário
Nossa Octavio, preciso dizer...esse foi o texto sobre economia mais apaixonado que eu já li na minha vida. O jeito como você explica os gastos, e ao mesmo tempo não reclama deles foi muito legal, e todo esse sentimento lindo que você tem pelos seus filhos? Realmente especial. Parabéns, viu? E desculpem os usuários do fórum, por eu não estar acrescentando nada ao assunto, mas eu PRECISAVA parabenizá-lo! [Patrícia, moderadora]

junho 07, 2008

Alimentando as ferinhas

[Vovó, a tia-avó e Bia dando papá pra Laura, Mario e Diogo. Vovô assistindo]
Mais divertido que preparar as painhas era dá-las pras crianças. Crianças comendo são muito engraçadas, especialmente quando estão experimentando coisas novas, inaugurando sentidos, o paladar, o olfato, o tato. E como tudo pra eles, a refeição também se transforma numa atividade lúdica. Eles querem colocar a mão, sentir a textura da comida. Querem verificar a cor. Querem ver se faz bolhinhas quando assopram. É uma loucura.

Na hora da alimentação também tínhamos que pensar em escala de produção. A coisa mais importante era estabelecer os mesmos horários pra todos. Depois, era preciso arrumá-los de um jeito que uma ou duas pessoas pudessem dar conta da tarefa. Assim, colocávamos os três lado a lado, nos bebes conforto sobre a mesa, ligeiramente reclinados pra frente. E tocávamos em frente. Sempre que tinha mais gente nessa hora, as pessoas entravam na linha de produção pra ajudar. E se alguém ficava de fora, parecia irresistível não assistir ao evento.

Pra falar a verdade, não sei se eles gostavam muito da comida não. Vendo algumas fotos, lembrei que a Laura, por exemplo, estranhava as texturas das papas. A comida não ficava muito tempo dentro da boca, ficava mais fora da boca. Dos meninos não lembro muito como era. Aliás, dar comida pra eles nunca foi meu departamento. Sempre foi uma coisa que deixei pros outros fazerem. Estranhamente, hoje em dia, eles comem muito bem quando estão comigo. Também, já estão em outra fase, comem praticamente sozinhos e gostam quando damos espaço pra demonstrarem suas habilidades. E como não gosto muito da tarefa, eu deixo que eles se virem. Tem funcionado.

[Irmã e prima da Bia e Bia dando papá pra Diogo, Mario e Laura]

junho 06, 2008

p a r a l e l a s [ 3 ] : álbuns

1 foto por mês de cada um no ano de 2004.
Como eles se transformam rápido!

Diogo

Laura

Mario

Papinhas no atacado

Com 4 meses introduzimos outros alimentos: legumes, frutas, sucos, cereais, carnes. Logo na primeira experiência percebemos que teríamos que trabalhar em escala de produção. Não era apenas fazer uma papinha por dia e pronto. Tínhamos que ter quantidade e variedade com qualidade. Na verdade o que estávamos enfrentando era uma empresa que nasceu grande. Eu ia ao CEASA e ao Makro uma vez por mês e comprava tudo no atacado. Num primeiro olhar poderia parecer muita quantidade, mas tudo que eu comprava era consumido, tudo! A perda era mínima.

Estabeleci o dia das compras que, se não me falha a memória era na terça-feira. Eu saía cedo, ia ao Ceasa e comprava uma caixa de banana prata, uma caixa de laranja lima, caixas de outras frutas da estação, como manga, goiaba, pêra, maça, uma melancia, 3 quilos de abrorinha, cenoura, batata, mandioquinha, beterraba e outros legumes. Eu gostava de fazer isso. Procurava as bancas com frutas mais bonitas, com o melhor preço e, eventualmente me tornei freguês de uma ou outra banca. Depois de um tempo, passei a almoçar no CEASA, num daqueles restaurantes que tem por lá. Comida simples, mas bem feitinha, contra filé, arroz, feijão, farofa e uma verdura. Dali eu seguia pro Makro, pra comprar arroz, feijão, leite, fraldas e todo o resto necessário pra manter a casa durante o mês. O porta malas do Doblò ficava abarrotado.

Chegava em casa e tinha que arrumar tudo, guardar, estocar. Adaptei uma cesta presa nos pés da nossa mesa da cozinha, rente ao chão. Foi uma sorte achar uma cesta que encaixasse ali, justa, do mesmo tamanho. Ali colocava a caixa de laranja. Na lavanderia tínhamos um frigobar antigo onde guardávamos legumes e verduras. As outras frutas guardávamos nas fruteiras da sala.

Acho que o mais legal de tudo era fazer as papinhas. Bia e eu passávamos umas 2 noites preparando várias combinações de papinhas que acondicionávamos em diversos potinhos para serem congeladas. Refogávamos os legumes, cozinhávamos as carnes, preparávamos todos os ingredientes. Então misturávamos cenoura e abrobrinha com carne, beterraba, mandioquinha e frango e por ai vai. O freezer ficava abarrotado. Enquanto preparávamos tudo isso, geralmente à noite, conversávamos um monte de coisas, falávamos do nosso futuro, do futuro das crianças, das nossas vidas profissionais.

A criançada comia tudo, tudo. Na reclamavam de nada, gostavam de todas as combinações que fazíamos. Com o tempo as papinhas passaram de pastosas a granuladas e depois ganharam pedacinhos que foram aumentando pouco a pouco. Era gostoso prepará-las, especialmente junto com a Bia. Era um momento a dois dedicado aos 3. Fazíamos isso com muito carinho.

E ainda tínhamos energia pra prepara pratos pra nós. Nessa época eu assistia aos programas do Jamie Oliver e do Olivier Anquier. Aprendi um monte de coisas, fiz um monte das receitas deles. Também assistia a Nigella, mas com ela não aprendia nada, só apreciava mesmo. Afinal, não tínhamos muito pra onde ir mesmo, o negócio era ficar em casa, curtindo aquela empresa que caiu no nosso colo e que aprendíamos a administrar um pouco a cada dia.

junho 05, 2008

Uma casa cheia de mulheres

Quando soube que seria pai de 2 meninos pensei que enfim teria maioria masculina em minha casa. Sim, por que sempre fui minoria, éramos meu pai e eu e pronto. Por muito tempo, bicho lá em casa era só macho: passarinho, gato, cachorro, peixe...Ainda assim as mulheres faziam a maioria esmagadora: minha mãe, minhas 3 irmãs, a cozinheira, a faxineira, a passadeira [2 vezes por semana], 1 amiga de cada irmã ou as primas que sempre vinham em dupla, minha avó, a Babá...fez as contas?...a casa vivia cheia de mulheres. A tal ponto que um belo dia, eu, no alto de meus 7 anos resolvi dar uma espinafrada naquilo que me parecia um abuso: ‘Não agüento mais esse cheiro de mulher no meu quarto, não quero nunca mais mulher no meu quarto’. Óbvio, fui advertido de que essa situação mudaria e eu ia querer muito um quarto cheio de mulheres, cheirando a mulheres! Claro que esse se transformou num sonho frustrado da adolescência. De todo modo, a situação era absurda, um mulherio danado.

Mas a casa cheia de mulheres parece ser minha sina. Nem com 2 filhos consegui ser maioria. Como já disse, criança é departamento feminino. Desde as visitas à maternidade até a ajuda que recebíamos, o número de mulheres à minha volta aumentava exponencialmente: Bia, Laura, as 2 avós, as 2 babás, a faxineira 1 vez por semana, minhas 2 irmãs, a tia-avó da Bia, e a coisa não parava...

Os trigêmeos nasceram e toda a ajuda era bem vinda e nós sempre estávamos à procura de mais ajuda. Além das babás, das vovós e das ajudas esporádicas, achávamos que poderíamos ter mais ajuda. E tudo aconteceu meio por acaso. Uma das moças que tinha trabalhado com a Bia no hotel estava num programa de Au pair para fazer uma experiência no exterior. O programa exigia comprovação de experiência de não sei quantas horas, ou algo como quanto mais horas de experiência, melhor. Au pair é como chama as babás na Franca e em grande parte do mundo. Muitas meninas, grande parte delas universitárias, participam desse programa organizado por uma agência de intercâmbios aqui do Brasil.

Então essa moça, muito delicada, perguntou a Bia se podia fazer estagio lá em casa, com os trigêmeos. Pode? Não só pode como deve! E deu muito certo. Ela entrava na troca de turno das babás ou no fim da tarde, até chegarmos do trabalho, sempre com mais alguma pessoa junto. Deu tão certo que procuramos a agência que organizava o programa oferecendo nossa casa e nossos filhos para outras mocas que precisassem comprovar experiência. Era uma situação inusitada, uma inovação. Nossa casa estava na lista de estágio disponível para as Au pair. Outras meninas vieram, ficaram por um tempo, por 2 ou 3 meses e depois iam embora. Às vezes tinham 2 ou 3 em casa. E chegavam outras. Chegou a ter fila na agência de gente querendo estágio na nossa casa. Afinal, a credencial era de alto gabarito: experiência em cuidar de trigêmeos!

No final, depois de um tempo, cansamos. Era muita gente em casa, um mulherio danado. Não que eu não goste, longe disso! Mas eu chegava em casa meio cansado, querendo relaxar e ver as crianças e às vezes não conseguia nem chegar perto deles. Só conseguia pegá-los no colo depois que todo mundo tivesse ido embora. Às vezes nem isso, porque as moças já os colocavam na cama pra dormir. Então eu ia vê-los só na hora da mamadeira...De qualquer jeito, foi uma experiência bem legal. Mais uma entre tantas que tivemos com esses tri!

junho 04, 2008

Mamãe! Cadê você?

A Bia voltou feliz da vida ao trabalho. Sempre foi super competente, pra não dizer caxias. Logo que voltou, recebeu uma proposta para exercer uma nova função, de caráter regional. Então, tinha que viajar pelo estado de São Paulo e às vezes pra outros estados. Ela adorou, pegou o desafio e mandou ver. Mas isso significava que eu passaria as noites sozinho em casa com os trigêmeos. Sim, porque eu preferia enfrentar o desafio de ficar sozinho com os 3 do que ter a companhia de alguém, que apesar da ajuda que me daria, me tiraria a privacidade.

Então Bia viajava 3 ou 4 noites por semana, quase todas as semanas. Algumas viagens eram mais longas, a semana toda. E ficava eu com os trigêmeos. Não foi mole não! Foi difícil! Mas eu até que gostava. E muito! Aprendi muito com eles, sobre eles e sobre mim mesmo. E eles puderam me conhecer muito bem. Estabelecemos uma relação muito intensa e de muito respeito mútuo.

A parte mais difícil era colocar no berço à noite. A mais gostosa acordá-los de manhã. Ou acordar com eles, ser acordado por eles de manhã. Eles sempre acordaram muito cedo e eu também sou um cara matutino, apesar de gostar da boemia. Eles acordavam por volta das 5 da manhã, mamavam e não queriam mais dormir, queriam brincar. E eu me divertia com eles até a hora em que a babá chegava pra me render, às 6 da manhã, pra que eu pudesse me arrumar e sair pro trabalho.

Até hoje os 3 acordam bem cedo. E eu acho que esse é o melhor período da criança, logo que ela acorda. Ela acorda animada, sorrindo, com as baterias recarregadas, descansada, louca pra explorar o mundo, ver, tocar, conhecer, aprender. Aquela hora matinal que passava com eles era encantadora. Fiz fotos e mais fotos dos 3 nessa horinha. Era a hora da minha farra com eles e eu saía pra trabalhar feliz da vida.

Apesar de tudo, era difícil ficar sem a Bia. Afinal, eram 3 bebês pro pai cuidar. Eram 3 crianças sentindo falta da mãe. Às vezes dava uma certa tristeza, uma angústia de estar sozinho. Nunca reclamei disso, não achava justo com a Bia. Ela tinha a carreira dela e eu sempre dei muita força pra que ela alcançasse os objetivos que almejava. Minha agenda era muito mais tranqüila, eu tinha pelo menos um dia livre por semana e conseguia chegar em casa às 5 ou 6 da tarde. Uns 3 anos se passaram assim. Eu sempre curti muito cada fase que passamos, por que sei que o tempo voa, não volta a trás e só deixa a saudade.

junho 03, 2008

A Praça Carlos Gomes

[vista da nossa janela do oitavo andar do Ceres]
É notória a freqüência de usuários da praça Carlos Gomes. O trottoir por ali é uma tradição que remonta aos anos 50 e 60 do século passado. Antes disso, ou ao mesmo tempo, havia uma casa de favores muito conhecida e respeitada, exatamente onde foi construído o edifício Ceres, esse, onde moramos. Era a casa da Fanny. Ou da Lola? Não sei mais, quem me contou isso foi um amigo nosso, campineiro da gema, conhece estórias que até o mais crédulo custaria a acreditar. Mas, segundo ele, é tudo verdade. Eu acredito.

Bom, sempre usamos muito a praça pra passear com as crianças. Era um bom lugar pra tomar um ar, um solzinho. A praça é muito bonita, bem arborizada, um desenho de jardim francês, com coreto, um pequeno lago com chafariz, árvores centenárias, palmeiras imperiais de porte magnífico, plantadas pelo próprio Dom Pedro II, que vinha vez ou outra a Campinas e se hospedava na Fazenda Rio das Pedras, lá em Barão Geraldo. Se não me engano, a praça existia como campo desde metade do século 19, o projeto é de 1898 e a data inaugural é 1913. Parece que ali começou um dos times de futebol de Campinas, que homenageou o compositor que dá nome à praça, o Guarani. Na praça tem também o busto do primo Rui, é, do Rui Barbosa, que é da família Barbosa de Oliveira da tal fazenda que hospedava D. Pedro. Meu pai adorava contar essa parte da estória familiar, principalmente quando alguém vinha falando grosso que era quatrocentão e tal e coisa. Ele dizia que era quinhentão!

Voltando à praça, as babás levavam as crianças pra passear diariamente. E claro, as crianças ficaram conhecidas de todos, do jornaleiro, dos taxistas, dos jardineiros, dos desocupados que alugavam banco ali e das moças que trabalhavam por lá. São moças trabalhadoras, da mais antiga profissão que se têm noticia, todas experientes, à beira da aposentadoria. Elas passaram a nos cumprimentar todas as vezes que passávamos ali. Isso acontece até hoje. Quando as crianças cresceram um pouco, iam brincar no parquinho que tem ali. E não é que as mocas passaram a tomar conta...das babás! Era só a gente aparecer num sábado de manhã com as crianças que elas vinham passar o relatório. ‘A tal babá gritou com o menino!’, ou ‘Eles sobem no balanço e a babá fica batendo papo, e se eles caírem?’

Em tempos de medo generalizado, o centro parece um bairro antigo em que todo mundo se conhece. Pelo menos aqui em volta da praça é assim. E como nós não temos preconceito de classe e nem de escolha profissional, as moças da praça se tornaram vigias das crianças. Até hoje elas adoram os trigêmeos.

junho 02, 2008

p a r a l e l a s [02]: Minha babá é a Glória!

[Babá e Laura]
Minha Babá se chamava Glória. No passado mesmo, porque desde que me entendo por gente nós a chamamos de Babá. Na verdade ela foi criada por minha avó materna, a vovó Marta, junto com minha mãe e meu tio Fernando. Lembro que minha avó dizia que a Glória era da pá virada, que aprontava mil e uma. Não sei quando ela passou a ser chamada e conhecida por Babá. Pra mim sempre foi Babá, até hoje.

Acho incrível que a Babá conheça a quarta geração da família, isso é demais, muito legal. Ela foi minha Babá por tabela, ajudava minha mãe sempre que surgia alguma necessidade extraordinária. Ela morava com minha avó, na casa da Rua Inglaterra, número 74. Lá ela casou com o Milton e teve seu único filho, o Miltinho, hoje Miltão. Os dois eram cariocas e nunca mais voltaram pro Rio. Quando meus pais se mudaram pra Campinas, a Babá também veio, aliás, minha avó Marta também.

[Babá e Diogo]

Eu tenho um carinho enorme pela Babá. É uma das pessoas mais doces que conheço. Por falar em doce, ela é uma cozinheira de mão cheia. Nunca vou me esquecer dos ovos nevados que ela faz. Quando éramos pequenos, os ovos nevados era sobremesa obrigatória na casa da vovó. Nós chamávamos de ovos ‘levados’. Preciso pedir pra que ela faça ovos ‘levados’ pros trigêmeos experimentarem.

Achei umas fotos dela com os trigêmeos nos meus arquivos. Acho que estão entre as melhores fotos que tirei dos 3. Eles são como bisnetos dela, não é incrível? É a bivó Babá!

[Babá e Mario]

Com babás, sem babás

Parecia impensável ficar sem babá, apesar da Bia estar em casa nos 4 primeiros meses. Mas ela já se preparava pra voltar ao trabalho, já estava meio cansada de ficar em casa. As moças que trabalhavam em nossa casa eram boazinhas, davam conta do recado. E gostavam das crianças, o mais importante de tudo. Uma delas, a Carioca, nutria uma paixão pelo Mario, que era risonho e bonzinho, às vezes dado a cantorias em alto volume. Elas vinham de segunda a sábado e faziam turnos com horários diferentes, então tínhamos alguém conosco por 12 horas. Aos domingos ficávamos sozinhos com os trigêmeos, por que normalmente íamos à casa da vovó Maria e sempre tinha gente pra ajudar por lá. Minha mãe tirava umas folgas no domingo ou durante a semana, porque ninguém é de ferro, né!

Quando a Bia voltou ao trabalho, dispensamos minha mãe da função de dormir em casa pra nos ajudar. Os horários das mamadas, depois dos 4 meses foram mudando, o tempo entre elas aumentando. Pra ajudar, eles seguravam sozinhos as mamadeiras, até à noite. Com Bia e minha mãe fora durante o dia, o esquema funcionou muito bem, no azeite. As babás assumiram as tarefas com os 3: mamadeiras, fraldas, banho, passeio e por aí vai. O período da noite ficou por nossa conta e também foi relativamente tranqüilo.

Mas por que cargas d’água eles resolveram ficar sem ninguém à noite. Bom, primeiro porque nós já não agüentávamos mais a falta de privacidade que resulta de ter sempre alguém em sua casa, por mais da família que seja. Queríamos ficar sozinhos, nós 2 novamente e nós 5, já que nunca ficávamos sós com as crianças. Esse é o segundo motivo, queríamos ir criando laços com os trigêmeos sem a interferência de ninguém, laços familiares, laços entre pais e filhos. Com o tempo fomos aumentando cada vez mais o tempo em que nós 2 ficávamos com eles. Não vou dizer que foi fácil, mas que foi maravilhoso foi.

junho 01, 2008

p a r a l e l a s [01]: Um velho amigo vai ter trigêmeos!

Essa notícia foi fantástica! Recebi um email de uma amiga que mora em Milão, comentando sobre o blog. Nós fomos colegas na faculdade de arquitetura, fomos muito amigos, namoramos por um tempo. Ela me manda uma mensagem falando do blog e no final escreve: “Você não vai acreditar: o Caê me escreveu esta semana contando que também vai ter trigêmeos...é impressionante, não?
Não sei bem a estória dele mas também acho que foi muito por acaso...”

Eu fiquei pasmo, mudo por uns minutos. O Caê também tinha sido meu colega na faculdade. Fomos bem amigos, companheiros. Aprontamos umas boas juntos, até chegamos a dividir um apartamento juntos por um tempo, mas não deu muito certo. Dei um reply pra Milão, dizendo estar muito surpreso e pedindo o email do Caê. Logo ela me passou outro email com o contato dele. Ele mora na Califórnia há 16 anos, praticamente desde que nos formamos. Não o vejo desde então, uma loucura mesmo, o tempo. Entro em contato com ele, conto que tenho trigêmeos, pergunto como ele está. Ele me conta brevemente da gravidez, das dificuldades de estar sem a família por perto, que não tem ajuda de auxiliares. E que tem um menino de 3 anos!

A nostalgia do tempo que se foi é inevitável. O cara era meu companheiro na universidade, passa o tempo, não o vejo desde então e quando tenho notícias dele ele me vem com essa...ele também vai ser pai de 2 meninos e uma menina. Agora estamos trocando mensagens, de repente posso ajudar um pouco. Quando contei pra Marta, minha irmã, ela disse: ‘Nossa, deve ter sido alguma coisa que vocês tomaram na faculdade!’ Quem sabe?

Eu posso dizer que já tive um McLaren!

Pois é, o carrinho de gêmeos que compramos era inglês, da marca Mclaren. Foi o carrinho escolhido depois de muita pesquisa. Queríamos um carrinho que não fosse um trambolhão pra usar e que ficasse pequeno quando fechado. Então tinha que ser do sistema guarda chuva, que dobra pra fechar e fica em pé. Achei numa loja em São Paulo. Na foi barato, mas o custo benefício foi altamente positivo. O McLaren foi tão bom pra nós, as crianças gostavam tanto dele que fizemos uma despedida do carrinho com as crianças.
[despedida do McLaren!]

Com a chegada dos trigêmeos, as mudanças em nossa vida foram muitas. Uma delas foi em relação aos carros. Tínhamos dois carros pequenos naquela época, que com certeza não iriam acomodar 3 cadeirinhas no banco de trás. Tínhamos que trocar. Fizemos uns testes em alguns carros grandes, mas não deram certo. Começamos a pesquisar em sites e revistas especializadas pra ver que carro seria mais adequado em termos de tamanho, porta malas, praticidade, e outros itens.

Chegamos à conclusão que o Doblò seria o mais apropriado pra nós, por 3 motivos: acomodava até 7 pessoas (isso seria importante pra levar babás, vovós e outros eventuais ajudantes); porta malas bem grande; portas laterais de correr e preço (não era tão caro quanto uma Zafira, que também tinha 7 lugares). Começamos a ver o tal carro na rua com mais freqüência e o achávamos feio, mas simpático. As ofertas nos jornais eram muito poucas, então comecei uma busca em outros lugar. Depois de alguns dias, encontrei o bicho numa pequena loja em Santa Bárbara, onde trabalhava. A loja tinha uns 20 carros e lá no fundo um Doblò cinza chumbo, bem conservado, 12 mil km rodados. O preço era compatível com o que encontrava nas pesquisas. O meu carro velho entrou no rolo, ganhamos uma grana de presente e compramos o bichão. Estamos com ele até hoje.

Fazer o quê, né? Tive que me contentar com um Doblò mesmo! Que nada, é um carrão! Gosto mais dele do que do McLaren! Depois de 4 anos e 125 mil km rodados, continua dando conta do recado. Nem penso em trocá-lo. E McLaren...bom, acho que vai ser difícil ter outro...

[o doblo na loja]